Ainda lembro quando, caminhando pelas ruas de São Paulo, Thomas escutava um curso de português em seus fones de ouvido e repetia: “O menino é bonito”. Esse menino bonito holandês estava na cidade para realizar a primeira colaboração que fizemos juntos. Quase uma década depois voltamos a cruzar produções. Porém, muito diferente de 2013, o primeiro biênio de 2020 trouxe com a pandemia sensações estranhas. “Sinto como se todos estivéssemos sendo tragados para um buraco”, me disse Thomas mostrando algumas imagens que passou a colecionar de crateras que se abrem em cidades, campos, praias. Os sumidouros que bem se conectam com o momento pandêmico. Pensando sobre essa sensação de buraco-vazio, nos lembramos de outra conexão nossa: em continentes separados por um oceano-buraco tínhamos uma MAVICA cada um. Uma antiga câmera que ainda fotografa usando disquetes de 3 polegadas e meia. Elas são um buraco-vazio na própria evolução da fotografia digital. Decidimos que ela seria nosso elo e encontramos uma selfie de HD feita por uma MAVICA em 2002: uma foto nos bastava como gatilho. Thomas fotografou o campo francês, eu fotografei o litoral gaúcho. Flores da terra, mães da terra. Por um instante nossos vazios pareceram completos.
Leo Caobelli