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Fig. 1: Pirâmide de discos, reprodução de escultura com HDs, 2017.
Fig. 2: Testando discos no galpão de São Leopoldo. (Foto: Vicente Carcuchinski)
Fig. 3: Catalogando e registrando os HDs.
Fig. 4: Os primeiros 21 HDs recuperados, ainda em 2016.

No início deste 2022, enquanto subia o banco de dados recuperados na nuvem para que cada artista pudesse acessar os arquivos e criar seus zines, o Google Drive acusou o upload como uma tentativa de pitching, ou seja, a disseminação de vírus em sua base de dados.

Ironicamente os vírus detectados pela “inteligência artificial” da gigante do vale do silício eram apenas fotos corrompidas, erros dos mais diversos, inofensivos e belos. Recebi uma série de emails de notificação, 60 dos um milhão de arquivos que subi na nuvem haviam sido identificados como material potencialmente perigoso. Assim, numa manhã que começou às 5:20, fui desconectado definitivamente e sem direito à revisão de uma conta com 17 anos de existência. Todos os emails se foram, as pastas do drive, as fotos… deletados por serem perigosos.

Claro que por circular entre desertos de erros tenho o hábito de manter backups, mas me espantou a forma abrupta de desconexão em relação a essa fé atual de que a nuvem tudo salva, melhor que os HDs obsoletos que aqui revivem.

Passada a raiva contra a máquina peguei um papel e escrevi o texto enviado a cada artista para pensar seu zine:

“Preâmbulo às instruções oraculares”,
Quem compra um disco rígido espera estar comprando espaço de armazenamento. Mal sabe que, na verdade, está comprando tempo. Talvez até esteja comprando este novo disco para substituir um que acabara de se tornar obsoleto. Como todo dispositivo tecnológico de consumo em massa, esse HD vem carregado com um item de fábrica obrigatório: um relógio de falhar. E sim, invariavelmente você irá perder. Perderá as fotos do nascimento, das férias, das festas. Perderá a declaração de imposto de renda, a dissertação de mestrado, o projeto que deveria ser entregue na próxima segunda. Você perderá. Esses são dados viciados. Dissipa a névoa, não existe pedaço no céu, na nuvem, não há éter digital, ali você compra tempo no espaço do outro. Há, porém, algo libertador em jogar uma partida perdida e abraçar a inevitabilidade da derrota, do fracasso, do naufrágio. Não há backup para sonhos. Mantenha suas pastas organizadas. Dados rolam.

Leo Caobelli, 2022.

 

Saiba mais sobre os processos de pesquisa e recuperação de dados em: 8 desertos | Info – Desertos de erros

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